Parceiros da inovação #01
Insetos que valem ouro: Investigadoras do IST lideram inovação na bioindústria europeia
Quitosano a partir de Insetos: A inovação sustentável que nasce no IST
No Centro de Química Estrutural do Instituto Superior Técnico (IST), um projeto ambicioso está a colocar Portugal no centro do mapa europeu da bioeconomia. Chamado Insectera, este projeto financiado pelo PRR aposta numa nova bioindústria baseada na utilização de insetos como matéria-prima para produtos sustentáveis — uma ideia que, à primeira vista, pode parecer inusitada, mas que está a gerar inovação com impacto global.

Sob a coordenação das investigadoras Ana Paula Ribeiro (IST-ID) e Luísa Margarida Martins (IST), o projeto trabalha com espécies como a mosca soldado negro (Hermetia illucens, BSF), o Tenebrio Molitor e o grilo doméstico (Acheta domesticus L.), convertendo os seus resíduos orgânicos em materiais de elevado valor acrescentado. As aplicações vão da indústria farmacêutica à cosmética, passando pelos bioplásticos e pela alimentação.
Entre os aliados tecnológicos que têm ajudado a viabilizar o trabalho estão três equipamentos da Retsch — o Moinho de Lâminas SM 300, o Moinho Planetário de Bolas PM 300 e o EMAX — que, foram fundamentais para escalar, afinar e validar os métodos de transformação da biomassa.
A Origem: Como os Insetos entraram na equação
“Transformamos aquilo que sobra da vida dos insetos num recurso valioso”, explica Luísa Margarida Martins, professora catedrática e coordenadora científica do projeto no Departamento de Engenharia Química do IST.

A investigação começou com uma pergunta simples: o que fazer com os resíduos deixados pela produção intensiva de insetos, como as exúvias da mosca soldado negro? Esta espécie, usada em larga escala na produção de proteínas e óleos, deixa para trás resíduos que, até agora, eram ignorados ou descartados.
A resposta revelou-se promissora: essas estruturas são uma fonte rica de quitina, um biopolímero que pode ser convertido em quitosano, com inúmeras aplicações industriais e elevado valor económico. Além de contribuir para a valorização de resíduos, o projeto promove a sustentabilidade e a economia circular, reduzindo a dependência de importações e criando cadeias de valor locais.
“Já estamos a colaborar com a indústria farmacêutica e a desenvolver embalagens de bioplástico”, revela Ana Paula Ribeiro, investigadora no Centro de Química Estrutural do IST. “O nosso objetivo é criar soluções reais, aplicáveis fora do laboratório. O que fazemos aqui contribui para a economia circular, reduz o desperdício e cria soluções que são mesmo aplicáveis fora do laboratório”, afirma Luísa.

Inovação com Tecnologia de Precisão
O sucesso do Insectera deve-se também à aposta em tecnologia avançada de processamento. Este tipo de trabalho exige precisão, consistência e adaptabilidade. A biomassa de insetos é frágil, sensível ao calor, e requer um processamento meticuloso. Três moinhos da Retsch, fornecidos pela Scansci, desempenharam um papel essencial:
Moinho de Lâminas SM 300 – Escolhido por ser robusto e fiável, permitiu escalar a produção e processar grandes volumes de biomassa.
Moinho Planetário de Bolas PM 300 – utilizado nos primeiros testes laboratoriais, especialmente na fragmentação da quitina e em processos de experimentação com mecanossíntese.
EMAX – um moinho de alta energia que tem sido essencial no desenvolvimento de novos compostos através de mecanoquímica, uma área onde Portugal começa a destacar-se.

“É curioso, porque ao trabalhar com equipamentos versáteis, como os da Retsch, começámos a experimentar mais. Testámos novas técnicas, ajustámos métodos, e de repente tínhamos algo completamente novo. E com o GrindControl da Retsch, conseguimos monitorizar a temperatura, algo crítico para não degradar a biomassa”, destaca Ana Paula.
Patentes, Prémios e Impacto global

O trabalho das investigadoras não começou com o Insectera. Já antes tinham desenvolvido investigação em mecanoquímica e biofilmes de quitosano, da qual resultou uma patente mundial. Este conhecimento foi posteriormente partilhado com estudantes do Colégio Valsassina, que desenvolveram o projeto HIDROQAPA, focado em biofilmes impermeabilizantes de quitosano. O projeto foi premiado a nível nacional, representou Portugal na maior feira de ciência do mundo, na Califórnia, e valeu aos estudantes um convite para o European Innovation Council, em Bruxelas.
Além dos prémios, o projeto demonstrou ser possível extrair quitosano sem recorrer a químicos agressivos, ao contrário dos métodos convencionais. O processo desenvolvido é mais verde, mais seguro e mais sustentável — exatamente o tipo de inovação que a Europa procura.
Da Ciência à Transformação
O Insectera é mais do que um projeto de investigação: é um exemplo de como a ciência pode transformar mentalidades e modelos de produção. Neste projeto, não se trata apenas de transformar resíduos, mas sim de olhar para o que sobra e ver potencial. O processo desenvolvido é mais verde, mais seguro e mais sustentável — exatamente o tipo de inovação que a Europa procura.
No coração do IST, duas investigadoras mostram-nos que o futuro da sustentabilidade passa por ideias ousadas, conhecimento profundo e as ferramentas certas. A capacidade de adaptar, testar, escalar e controlar com precisão foi o que deu forma a ideias visionárias e as transformou em realidade científica.
“Até os insetos podem fazer parte das soluções mais promissoras para os desafios do nosso tempo.”, conclui Luísa Margarida Martins.
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